6.3 - Inclusão financeira em três dimensões
Aprimoramento de metodologia e aplicação de
pesquisas ajudarão a aprofundar conhecimento
sobre o cenário da inclusão financeira.
6.3.1 - Serviços financeiros: acesso e uso
Pesquisa CNI/Ibope auxiliou no mapeamento
da inclusão financeira.
Publicado pelo BCB em 2010 e 2011, o Relatório de Inclusão Financeira (RIF) foi o primeiro grande passo para construção do mapa da inclusão financeira no Brasil. A partir de dados fornecidos por instituições supervisionadas pelo BCB, o RIF analisou a oferta de serviços financeiros pelas instituições reguladas pelo BCB nas dimensões do acesso – que se refere à disponibilidade de serviços e produtos oferecidos por instituições financeiras formais – e do uso, que analisa a sua efetiva utilização pela população. Em 2011, o RIF nº 2 trouxe significativos aperfeiçoamentos, como a análise do papel de diferentes segmentos na inclusão financeira e a integração das informações de acesso e uso em um único índice, o Índice de Inclusão Financeira (IIF), com dezoito indicadores que abordam esses dois parâmetros.
Em 2012, como parte desse mapeamento, foi realizada, com apoio do BCB e da SAE/PR, a pesquisa CNI/IBOPE Retratos da Sociedade Brasileira: Inclusão Financeira, buscando verificar a percepção dos consumidores sobre suas relações com o mundo financeiro. Foi usada a seguinte definição de inclusão financeira: "processo de efetivo acesso e uso pela população de serviços financeiros adequados às suas necessidades, contribuindo para sua qualidade de vida". Nortearam o estudo questões como: "Por que se relacionar com instituições financeiras?", "Por que não se relacionar?", "Quais são as barreiras para se ter uma conta bancária?", O que leva um consumidor a procurar um banco?", "Que os serviços são mais demandados?", "Que os instrumentos de crédito são mais utilizados?". A discriminação por gênero, região, escolaridade e faixa de renda ajudou a entender as limitações para a prática da poupança e o envolvimento em situações de risco ligadas ao endividamento, bem como o grau de dificuldade para honrar os compromissos de dívida.
O questionário retrata a inclusão financeira de acordo com o grau de acesso e de uso dos serviços bancários por pessoa natural. A pesquisa considerou que ter uma conta-corrente ou uma conta de poupança é a principal forma de acesso³⁰. Os serviços bancários avaliados foram pagamentos, poupança, transferência de valores e crédito. Cerca de dois mil questionários foram aplicados pelo Ibope em março de 2012, com a população acima de dezesseis anos (população de eleitores). O acesso foi avaliado conforme o perfil do usuário: sexo, idade, escolaridade, renda pessoal e renda familiar.
O principal resultado encontrado foi que 63% da população acima de dezesseis anos tem acesso a serviços bancários, ou seja, possui conta-corrente e/ou conta-poupança. Cabe ressaltar que, em 2011, o relatório Global Findex, publicado pelo Banco Mundial, havia apurado que 56% da população adulta no Brasil (indivíduos acima de quinze anos) possuía conta em alguma instituição financeira formal.
Segundo a sondagem CNI/Ibope, mais de 1/3 da população ainda está fora do SFN, e as principais razões alegadas foram: falta de condições financeiras e alto custo bancário. A exclusão é maior por parte das mulheres, da população menos instruída e da de menor renda.
O serviço bancário mais utilizado pela população, mesmo pela população sem acesso, é o pagamento de contas. Os serviços de crédito também são muito utilizados: 38% dos entrevistados possuem algum tipo de empréstimo, parcelamento ou financiamento. O canal de endividamento mais frequente entre os consumidores avaliados pela pesquisa é o cartão de crédito: 32% do número de empréstimos utilizam o cartão de crédito. Outro canal muito utilizado é o empréstimo consignado (17%). Para os consumidores que optam pelo crédito fora das instituições financeiras, os instrumentos vinculados aos estabelecimentos comerciais são as principais escolhas, como o carnê de loja (25%) e o cartão de loja (16%)³¹.
As pessoas com menor escolaridade e renda recorrem menos às operações de crédito. No entanto, são as que mais enfrentam dificuldades para saldar seus compromissos. Em média, 73% das famílias brasileiras, com renda de até dez salários-mínimos, apresentam dificuldades para pagar suas dívidas (apenas compromissos financeiros, sem incluir contas). Da mesma forma, 69% dessas famílias, em média, não fazem qualquer reserva financeira. Por outro lado, para famílias com renda acima de dez salários, apenas 36% apresentam alguma dificuldade para pagamento das dívidas, sendo que, em média, apenas 34% não fazem nenhuma reserva financeira. O cenário atual traçado pela pesquisa mostra que grande parte da população brasileira não poupa e, ao mesmo tempo, encontra-se altamente endividada. Para a pequena parcela que possui o hábito de poupar, o grau de endividamento é menor.³²
³⁰ Embora seja a mais usual, a conta bancária não é a única forma de acesso. Um indivíduo pode fazer uso de serviços bancários, como efetuar pagamentos e obter crédito, sem ter uma conta de depósito, ou de poupança. Um dos resultados do questionário é que 29,3% dos entrevistados conseguem acesso a serviços financeiros por outros meios.³¹ As modalidades de crédito avaliadas pela pesquisa CNI/IBOPE foram: (i) no SFN: limite do cheque especial, cartão de crédito, empréstimo por penhora, empréstimo consignado, outro tipo de empréstimo ou financiamento em banco, outro tipo de empréstimo ou financiamento em cooperativa de crédito, outro tipo de empréstimo ou financiamento em financeira; e (ii) fora do SFN: cartão de loja, cheque pré-datado, carnê de loja, conhecido ou parente, empréstimo direto com empregador, agiota.
³² O relatório do Banco Mundial,
Global Findex, avaliou a inclusão financeira em vários países, até no Brasil. Apesar de a metodologia de pesquisa ser diferente da empregada na pesquisa CNI/IBOPE por considerar a população adulta (acima de quinze anos), os resultados são relevantes, pois permitem a comparação internacional. O relatório situou, em 2011, 148 países em estágios distintos de inclusão financeira. O indicador básico do
Findex é a posse e o uso de conta bancária. Para o Brasil, a pesquisa apurou que 56% da população adulta (acima de quinze anos) tem conta em alguma instituição financeira formal. O Brasil se destaca entre os países em desenvolvimento, cuja média ficou em 41% de inclusão. Além disso, o Brasil está mais bem situado que a Rússia (48%) e a Índia (35%), integrantes dos BRICS. Os dados de 2014 estarão disponíveis em abril de 2015.